23 de abril de 2012

JPM

Porque funciona assim: a gente passa a vida toda cultivando a doçura de amar um alguém. Sorri, chora e gargalha sem que se entenda o motivo. Suspira, delira, tem saudade. Mesmo sem nunca ter chegado perto. Ama mesmo assim, com todas as forças.

Aí o objeto do seu amor vem. Arrebata todo mundo do chão. E as pessoas fazem fila pra te dizer que agora o sentimento é mainstream: todo mundo o ama do mesmo jeitinho.

Só que não.

Meu amor é só meu.

Só ele teve aqueles momentos.

Só ele mudou minha vida.

Só ele faz parte de mim tanto quanto eu mesma.

(Porque meu amor fez de mim quem sou.
E quando o hype passar, ele vai voltar a ser meu amor.
E de mais ninguém.)

5 de janeiro de 2012

O que eu quero de você


Por Ivan Martins
Muito tempo atrás, quando o réveillon se aproximava, uma pessoa querida me perguntou o que eu esperava dela no ano que iria começar. Eu disse que não sabia, e era verdade. É verdade, também, que, desde então, eu aprendi alguma coisa. Percebi, com algum arrependimento, que havia, sim, coisas que eu deveria ter dito e que talvez tivessem nos ajudado. Mas tive preguiça, ou não tive coragem, e deixei a oportunidade passar. Hoje, acho que as coisas que eu não disse são importantes, e talvez não apenas para mim. Publico, portanto, a minha lista atrasada de desejos, escrita com a maior franqueza possível, esperando que ela seja útil para outros homens – e outras mulheres também:
A primeira coisa que eu desejo é que você continue sendo como é.
Parece bobagem, mas, à medida que as relações avançam, as pessoas se transformam. Elas vão se acomodando em papéis que substituem a personalidade complexa e rica que costumavam exibir no início do namoro - e que continuam a ter fora do casal. Eu estou falando, por exemplo, da garota que banca a menininha, enquanto o cara assume o papel de papai. Ou da mulher que passa a agir como mãe (carinhosa ou rabugenta), enquanto o namorado ou marido faz papel de filho. Penso na garota que começa a tratar o parceiro como o bobinho querido que não faz nada direito ou, do contrário, passa a venerá-lo como se ele fosse incapaz de errar. Penso no cara que se acomoda ao ciúme da mulher (ou vice-versa), e passa a viver como se a desconfiança doentia fosse uma parte natural da vida.
Eu não sei de onde vem isso, mas acontece. É como a preguiça que deixa o homem no sofá enquanto a mulher levanta para fazer a comida, ou o hábito de muitas mulheres de nunca mais guiar um automóvel depois que um homem entrou na vida delas. São acomodações, relaxamentos, auto-indulgências que a gente se permite, mas talvez devesse combater. Alguém vai dizer que essas atitudes revelam quem somos e que um bom relacionamento é, justamente, aquele que nos permite relaxar, sermos nós mesmos sem disfarces e sem afetações. Eu duvido. Acho que esse personagem sem graça que criamos nas relações duradouras não nos revela. Ele é apenas um pedaço bobo e infantil de nós mesmos. Então, apesar do conforto que eu sinto ao seu lado, não tenho a menor vontade de virar um chinelo velho, um apelido ridículo, uma piada repetida no almoço de domingo. Quero continuar sendo eu mesmo - e não quero que você vire a caricatura da mulher que eu conheci.
A outra coisa que eu desejo é que você respeite a minha solidão.
Quando a gente está num relacionamento, é comum ter vontade de exigir a atenção do outro o tempo inteiro. “Me escuta, olha para mim, fala comigo, pega a minha mão, não me ignora.” Pode ser bonitinho, mas não é razoável. É importante poder ficar longe, mesmo estando na presença um do outro – estar quieto, lendo, trabalhando ou apenas imerso em si mesmo. É igualmente importante poder fazer coisas sozinho, entrar no cinema ou caminhar pela rua sem estar de mãos dadas. A cumplicidade, embora essencial, não nos transforma em uma única pessoa, e isso é bom. Mesmo apaixonados, ainda precisamos boiar sozinhos no mar interior e você não deveria se assustar com isso. Entenda como uma oportunidade de estar na sua, de forma segura: eu estou aqui, você conta comigo permanentemente, minha mão está ao alcance da sua. Mas, às vezes, vou exigir distância e solidão – e é importante que você compreenda isso.
Não quero ser o eterno pagador das contas.
Sei que ainda é mais difícil para as mulheres do que para os homens ganhar dinheiro, mas, acredite levar a vida nas costas, sem expectativa de rodízio, tampouco é a coisa mais relaxante do mundo. Homens sofrem e se arrebentam com isso. Morrem jovens ou se estropiam com o estresse da situação. Eles não podem ser demitidos, não podem falhar, não podem ser passados para trás. Quem vai pagar a escola das crianças e o plano de saúde da vovó? Num mundo em que as mulheres estudam, competem e também mandam, essa situação patriarcal deixou de ser natural e caminha rapidamente para se tornar intolerável.
Outro dia, vi na internet um vídeo em que um escritor que eu admiro, morto recentemente – o Christopher Hitchens -, dizia que não achava que as mulheres precisavam trabalhar. Se quisessem, tudo bem, mas não precisavam, pelo menos não a mulher dele. Fiquei chocado. Mais ainda quando mulheres que eu conheço começaram a dizer que era isso mesmo. Caramba: no século XXI, depois de toda a merda que deixamos para trás, há pessoas adultas que ainda sonham em viver sem fazer nada, como sinhazinhas do Brasil escravocrata. Quem vai ralar em dobro e morrer de enfarte antes dos 50 para satisfazer esse desejo? Eu não, meu amor. Espero que você compreenda e nos ajude a superar esse arcaísmo.
Finalmente, quero que você aceite correr riscos.
Quando nos conhecemos, eu escolhi você – e fui escolhido – em meio a um monte de outras pessoas. Essa opção não mudou e não mudará enquanto houver carinho e intensidade entre nós. Mas uma coisa, sim, mudou inteiramente: passamos a evitar as tentações da multidão. Um pacto de medo fez com que passássemos a evitar pessoas e situações que nos causam insegurança. Vamos ser francos: não é apenas aquele ex que incomoda, mas uma listinha de pessoas que parece crescer a cada ano, assim como a relação das situações que precisam ser evitadas. Ouvi uma amiga dizer outro dia: ir ao cinema com outra mulher é traição. Seria mesmo? Almoçar, passear, rir, fazer compras, se emocionar fora da relação, esses são todos atos de deslealdade? Não acho que sejam, não podem ser. O mundo, o nosso mundo, precisa ser maior do que isso.
Por isso eu falo de aceitar riscos. Quero que você entenda, e me ajude a entender, que ter alguém não significa não ter mais ninguém ao redor. Às vezes você vai querer jantar com um amigo ou terá desejo de ir a uma festa sem mim. Tudo bem, porque eu também tenho vontade de fazer essas coisas. Há riscos? Claro, eles estão por toda parte. As pessoas são encantadoras, bonitas, sensuais. Mas você e eu temos um pacto, explícito ou não, com ou sem data de validade, que nos mantém unidos e leais um ao outro. No dia em que ele deixar de ser válido, a gente senta e reconversa. Até lá, vamos viver sem medo. Ou enfrentá-lo.

1 de janeiro de 2012

Resolução para 2012


Eu sou uma pessoa incorrigível.

Cresci lendo romances de banca de revista e até hoje sinto o coração bater como louco nos trechos em que os heróis, másculos e misteriosos, finalmente declaram seu amor pelas mocinhas independentes-porém-frágeis.

Eu choro vendo praticamente qualquer coisa. Comercial de margarina, de carro, de software (oi?). Derramei mais lágrimas que a plateia inteira junta na formatura em ABC do meu sobrinho. E quando qualquer pessoa demonstra ter fé no futuro chego a soluçar. Sério, tenho testemunhas.

Prefiro infinitamente dar do que receber. Nesta última viagem, consegui bater o recorde: 20 kg de excesso de bagagem, todos de presentes para família e amigos. Felicidade pra mim é assim.

E neste final de ano tatuei no tornozelo as três coisas mais importantes na minha vida: compaixão, tolerância e gratidão. Tento viver sempre de acordo com isso.

Enfim.

Minha maior obssessão é agradar as pessoas.

Também é meu maior sofrimento.

Me livrar disso é a meta de 2012.

Será que dá?

11 de novembro de 2011

Espelho meu


Auto-imagem.
Imagem do outro.

Hoje perdi o foco algumas vezes pensando nisto. Porque me vi instintivamente analisando o brilho de algumas pessoas, aquela qualidade que faz com que a gente queira conhecer mais. E entendi que aquela luz tem em grande parte origem em mim mesma - em como eu deixo a energia de cada um entrar.

Parei para pensar em como os outros me vêem.

Não consegui.

Tenho sérias dificuldades em aceitar qualquer opinião positiva - ainda que seja ávida em abraçar as más auto-impressões.  Então cheguei à conclusão de que teria de me bastar para fazer esta análise.

Começando pelo fato de eu não ter charme, não ser graciosa.
Pelo contrário, sou nervosa, desastrada e ligeiramente corcunda.
Minha voz é grave e anasalada. E minha risada é levemente histérica.
Estou gorda sim, isto é fato. E as covinhas em meu rosto se tornaram meio monstruosas com o passar do tempo.
Meu cabelo é diferente. De uma cor indefinida. Estranho. Engessado. E cresce em todas as direções - erradas.
Perfumes doces me fazem vomitar. E também detesto roupas delicadas e floridas.
Estou sempre de calças jeans e sapatos baixos - e com um cheiro que para mim é *muito* mais selvagem do que deveria.

Eu sou cínica. Reclamona. Negativa.

Agressiva. E falo sem pensar.

No final das contas, o que eu andei fazendo nos últimos anos?

3 de novembro de 2011

Casa nova


Tudo novo, inclusive aquela sensação chata de não se encontrar mais dentro da nova organização.

De velho, só aquele povo que insiste em pegar no meu pé quando bem entende.

#dai-mepaciência

16 de outubro de 2011

Coisa mais linda


Meu bisavô foi um dos fundadores do Santa Cruz. Não que eu saiba o nome completo do cidadão, mas esta parte da história fiz questão de decorar bem direitinho.

Um tio-avô meu era estrela do santinha nos anos 30.

Meu pai era tricolor doente.

Eu moro praticamente nos fundos do Arruda.

Lá no trabalho, minhas companheiras de labuta são todas tricolores - desconfio eu, por pura identificação com o fato do time só levar lapada.
(se fosse por essa lógica, todo jornalista devida torcer pro Íbis)

O porteiro aqui do prédio é quem me passa as informações mais quentes sobre a situação do santinha.

Sabe de uma coisa?

Hoje O MUNDO TODO É TRICOLOR.

(e seu Jairo tá dando aquela risada RÁ-RÁ-RÁ dele bem alto lá no céu)

Eu não queria, mas sou um porre mesmo

Clique na imagem para ver em tamanho original.


Daqui.

18 de setembro de 2011

Cabousse a boquinha


Enquanto os 7 quilos que me tornam redonda não sumirem, eu não sossego.

11 de setembro de 2011

Mme. Gurgel Valente, c'est moi


"Pois não posso mais carregar as dores do mundo. Que fazer, se sinto totalmente o que as pessoas são e sentem?"

"Eu procuro fazer o que se deve fazer, e ser como se deve ser, e me adaptar ao ambiente em que vivo - tudo isso eu consigo, mas com o prejuízo do meu equilíbrio íntimo, eu o sinto. [...] Passo épocas irritada, deprimida. Minha memória é uma coisa que nem existe: de uma sala para outra eu esqueço com naturalidade as coisas."

"TUDO ME ATINGE - VEJO DEMAIS, OUÇO DEMAIS, TUDO EXIGE DEMAIS DE MIM."

Clarice Lispector. Ou poderia ser eu mesma.

3 de agosto de 2011

Dois meses cinzas depois...


O céu de Recife volta a ser azul.

A pergunta é: quando será que eu vou parar de achar a vida tão longa?