30 de outubro de 2008

Essa sou eu

"Sei que meu olhar deve ser o de uma pessoa primitiva que se entrega toda ao mundo, primitiva como os deuses que só admitem vastamente o bem e o mal e não querem conhecer o bem enovelado como em cabelos no mal, mal que é o bom."
Clarice Lispector, Água Viva (1973).

Poeminha do desabrochar

Os céus da primavera
Cada dia mais azuis
E o meu jardim floresce.

27 de outubro de 2008

A felicidade a R$ 0,50

Tá fazendo um sol de lascar. O céu tá azulzinho e eu acabei de voltar da cidade, onde comprei um monte de jarros para as rosas, crisântemos e gérberas de meu recém ampliado jardim. A tarde está linda e... eu mencionei que está fazendo um calor de rachar?

Então hoje, só hoje que tenho aula até as 22h, fiz o impensável: comprei um raspa-raspa de morango de um anônimo ambulante. Com as mãos tingidas pela guloseima, aguardei ansiosa enquanto ele preparava o copo doce e rosa-choque - com o mesmo sabor dos picolés da minha infância, degustados em alguma viela a caminho da praia em Itamaracá.

É...

A felicidade existe.

22 de outubro de 2008

Morta.

E a semana só está na metade...

Botando fé naquele DVD de yoga para recuperar a energia psíquica (e a barriguinha também).
Tentando me recuperar de um período Dorflex-todo-dia.
Refazendo aos poucos a biblioteca que fundamentou minha personalidade (Água Viva e A hora do amor foram as primeiras aquisições. Ana e Pedro: cartas e Sabe de uma coisa? são a próxima).

Enfim...

A semana só está na metade.

20 de outubro de 2008

Só pra registrar

Eu e marido tomando chocolate no domingão de folga.

Porque eu também sou filha de Deus (e pra certas coisas existe Mastercard).

16 de outubro de 2008

À noite, todas as pretinhas são Pitanga

Um dos porteiros do meu prédio pode ser descrito como a quintessência da "figuraça". O cidadão já passou dos sessentinha e não escuta quase nada - mas insiste em trabalhar o turno da noite no escuro ("para aguçar a visão noturna", ele justifica, convenientemente sem lembrar a tarde em que precisei chutar o portão para entrar em casa).

Mês passado veio me perguntar baixinho se o dono do apartamento em que moramos é mesmo meu pai. Depois de quase dois anos vendo o senhorio visitar os inquilinos praticamente todos os dias (e em horários pouquíssimo ortodoxos, como seis da manhã e onze e meia da noite), não raro passando pela portaria com a locatária pendurada em seu pescoço, ele finalmente se deu conta da incrível semelhança de nossos sobrenomes nas correspondências (metade das minhas cartas vai para a residência do meu genitor, metade das dele chega na minha). Enfim.

A melhor de todas foi ontem. Para variar, precisei tocar a campainha algumas vezes até que ele saísse do minúsculo banheiro incrustado na portaria. Arrumando as calças, o indivíduo olhou para mim por um segundo e, ostentando um sorriso semi-banguelo, soltou a pérola: "Para mim a senhora é a cara da Camila Pitanga."

Cansada e com sono, dei uma risada com 90% de falsidade e retruquei o famoso "que é isso, só reencarnando algumas vezes para chegar lá". Continuei andando, enquanto ele insistia que às vezes chegava até a pensar que era a própria Pitanga tocando a cigarra - ignorando o fato de que dificilmente a global andaria de tênis e calça jeans folgada, descabelada e sem maquiagem, levando uma sacola de supermercado numa mão e uma pasta de clipping na outra, tentando encontrar as chaves de casa em uma bolsa comprada a R$ 20 perto da rua das Calçadas.

Insisti que, fora a cor marrom da pele de ambas e talvez um sinal perto do nariz, qualquer semelhança seria meramente fruto de drogas pesadas. Parecendo desistir do assunto, ele voltou sua atenção para dentro da portaria novamente, enquanto eu alcançava em paz a metade do caminho até as escadarias. Só na hora em que eu começava a escalar os primeiros degraus ele voltou de seu devaneio, a tempo de me fazer ouvir o grito:

"Mesmo assim eu ainda acho!"

13 de outubro de 2008

Ricos-não-FDP: catalogando uma espécie em extinção

Apenas por curiosidade (e um pouquinho de revolta), estou iniciando uma campanha na blogosfera - e para isto, preciso contar com a sua ajuda, incauto leitor. Se você conhece alguém rico (e não vale aquele amigo da sua vizinha que se aposentou com 3 salários mínimos, tem que ser RICO mesmo) e que NÃO SEJA FILHO DA PUTA, indique!

O objetivo científico da iniciativa é provar (ou não) a extinção da espécie RICO GENTE BOA, também conhecida como RGB. Será que eles ainda existem? Foram exterminados ou andam apenas escondidos nos confins da mata atlântica brasileira?

Vamos mobilizar a sociedade internética! Vamos acabar com a raça dos ricos nojentos, que além de ostentar sua grana na cara do resto da sociedade, ainda acham que é bonito humilhar os outros material e intelectualmente!

Junte-se a nós!

Quem menos!!!


A expressão é auto-significante.

O bom é saber que daqui pra diante, o dia só vai melhorar.

11 de outubro de 2008

Feliz dia das Crianças!

Eu, tentando escolher o presente deste ano (não, não ganhei o jacaré :P).

Parem as máquinas!*


Eu virei adulta (mas continuo tentando reverter o processo).

*parafraseando minha querida Branquela d'Angola.

8 de outubro de 2008

Cotidiano


Todo dia, mesma hora. Ele se arruma - veste calça de tecido e camisa social, perfuma-se com uma alfazema (como já não vê nem se sente) e penteia os cabelos com brilhantina. No bolso da camisa um pequeno rádio de pilha, contraste lindo e gritante com os modernos tocadores MP3 que hoje passam facilmente por uma caixa de fósforos (outro item altamente injustiçado no século dos acendedores e isqueiros).

Ele abre a porta do apartamento e, invariavelmente às quinze para as sete, cruza comigo nas antigas escadarias do prédio de apartamentos. Abaixa o olhar e murmura um boa-noite; o som ecoa pelas paredes cobertas de azulejos verdes. Enquanto luto contra o molho de chaves e as grades de casa, escuto-o caminhar a passos lentos até a frente do edifício. Finalmente ele toma seu lugar de hábito num combalido banco de granito, posicionado estrategicamente na penumbra.

E liga o rádio.

Ela escuta o som daquela valsa antiga - é hora. Despede-se do pai com um beijo e desce as escadas de seu próprio apartamento, encontrando-se com seu par sob uma luz suave e azulada. Naquele lugar, todos os dias são de lua cheia. Ela suspira, recosta a cabeça no ombro dele e fecha os olhos. Ele simplesmente sorri.

Até que horas os dois ficam ali, diariamente, imóveis e ouvindo valsas antigas, eu não tenho noção. O fato é que ambos têm mais de 60 anos - e todos os dias fazem tudo sempre igual.

Auto-análise é uma merda

De uns anos para cá venho constantemente me surpreendendo com o rumo dos meus pensamentos. Talvez seja o excesso de auto-reflexão, talvez a (i)maturidade, mas o fato é que hoje mesmo (finalmente) entendi o motivo da minha curiosidade - desejo até - de presenciar o fim do mundo.

Explico-me: a cada estourar de fogos de artifício, tremor de edifício ou barulho inexplicável, começo a querer acreditar que estou presenciando o armagedom, tal qual naquele filme em que o Bruce Willis salva o mundo da destruição (e a carreira do Aerosmith do ostracismo). E nessas horas sempre tenho que conter o ímpeto de sair em desabalada carreira e refugiar-me na casa de meus pais, rezando e celebrando os últimos momentos em família em uma linda cena hollywoodiana - enquanto uma chuva de meteoros transforma o planeta num naco queijo coalho no fundo da churrasqueira.

Pois é.

O que está por trás disso é trágico e, como não poderia deixar de ser, ao mesmo tempo cômico. Acontece que entendi: eu simplesmente NÃO QUERO encarar o fato de que em alguma hora, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente (e todos os advérbios que o valham), meus pais não vão fazer mais parte deste plano material, e eu terei que enfrentar o desconhecido sem eles. Se for para ser privada da convivência dos meus queridos velhos, prefiro que partamos todos de uma só vez, e o planeta Terra literalmente que se exploda.

Mais que isso eu não consigo explicar.

Loucura, huh?

Como diz o título deste post, auto-análise é uma merda.

A morte também.

E tenho dito.

P.S.: E mesmo que eu fosse a Liv Tyler, e tivesse o dinheiro do Bruce Willis, e fosse casada com o Ben Affleck, o veredicto seria o mesmo: que venha o fim do mundo!

7 de outubro de 2008

Perguntinha básica

Porque causa, motivo, razão ou circunstância existem pessoas que confundem simpatia com submissão?

6 de outubro de 2008

Correio elegante


Recife, 06 de outubro de 2008.

Deus?

Oi Deus, sou eu. Boa tarde pro Senhor, espero que esteja tudo bem por aí. Aqui as coisas vão bem, graças a... bem, graças ao Senhor. Teve aquela enxaqueca, mas Deus inventou o analgésico, então tudo bem.

Mas enfim, eu queria mesmo é pedir uma coisa...

ME PROTEJA DAQUELAS PESSOAS QUE SE LEVAM A SÉRIO. Tá certo?

Obrigada, viu? Qualquer coisa... é só ligar.

2 de outubro de 2008

Outro pensamentinho

Tem uma época na vida em que a gente rebola pra fazer charme.

E tem outra em que rebolar é inevitável, simplesmente pelo fato de termos ficado sentadas por mais de meia hora e as pernas não obedecerem mais ao comando "andar em linha reta".

Pensamentinho

Levei quase trinta anos para perceber que a noite do Recife é preta e laranja, e repleta de medos contidos e gritos sussurrados.