29 de setembro de 2008

Do biscoito chinês


Atingida a paz pode se entender as leis do universo e agir em harmonia com elas.

E olha que o biscoito nem era meu...

27 de setembro de 2008

Zabelê, zumbi, besouro

E só Deus sabe porque às vezes a gente se esquece do poder extraordinário da música: de aproximar pessoas, trazer de volta lugares. Em última instância, de nos fazer reencontrarmos com nós mesmos.

Ontem eu deixei a espontaneidade tomar conta como há muito não acontecia, e num espaço de doze horas descobri, comprei ingresso e estava pulando alucinadamente em um show daqueles que vale qualquer dinheiro, qualquer sacrífício, qualquer moeda de troca. Porque se descobrir novamente capaz de abrir os braços para o mundo ao som daquela galera meio-bruxa-meio-criança do famoso Clube da Esquina é experiência para quem sabe vivê-la.

Há quanto tempo eu não me entregava desta forma à vida, eu simplesmente não lembro. Gritei, pulei, aplaudi como se não houvesse amanhã. E hoje tenho a sensação de que não poderia estar mais feliz.




Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver
Não posso aceitar sossegado qualquer maldade ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão

Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um passado, no meu presente, um Sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assusta o menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer maldade ser coisa normal

Bola de Meia, Bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
toda vez que o adulto fraqueja ele vem pra me dar a mão

(Bola de Meia, Bola de Gude - 14 Bis)


O desafio é continuar assim, sempre e sempre, amém.

25 de setembro de 2008

Hoje


Hoje eu tava de cara feia.
Toda tensa e cheia de trabalho na cabeça.
Sabe aqueles dias em que todo mundo quer se aproveitar de você?

Quando você descobre que certas pessoas não fazem idéia do que seja "por favor" nem "obrigada", e que nunca foram ensinadas o significado de um "não", quanto mais da palavra "respeito".

Pois bem, o dia estava caminhando para uma enxaqueca.

Mas aí eu saí para almoçar - e no caminho, no meio da rua, tinha um passarinho.

Pequenininho e lindo, aboletado em um poste, no meio do emaranhado de fios.

E, a despeito do barulho dos carros e pessoas enlouquecidas com seus próprios problemas, o passarinho estava cantando. Lindamente, em alto e bom som, ele estava oferecendo seu melhor para aquele povo que só pensa em si.

Aí eu parei.

Sorri.

E amei aquele passarinho (você não tem idéia do quanto).

Don't worry
About a thing
'Cause ev'ry little thing
Is gonna be alright...

23 de setembro de 2008

Eu entrego, eu confio, eu aceito, eu agradeço

No último domingo me perdi entre fotos antigas: família, origens, história. Abri a caixa da memória e simplesmente respirei fundo, deixando a fada da lembrança fazer sua mágica. Passei com carinho por cada imagem, ao mesmo tempo revisitando todas aquelas sensações fantásticas...

De repente sinto como se pudesse estender a mão e tocar os pés de papoula de minha infância, ou sentir no rosto o frescor da brisa naquelas férias na praia.

Acho até que, fechando os olhos, consigo voltar vinte anos no tempo e ouvir novamente o zumbido alto das cigarras no verão, deitada no tapetinho outrora vermelho estendido sobre os tacos de meu antigo (e atual) quarto.

Quanto aconchego, quanta sensação de pertencer...

Uma imagem, no entanto, me chamou particularmente a atenção: eu, braços abertos, personificando a palavra leveza. Entregue ao momento, ao planeta, à vida. As preocupações poderiam até existir, mas eram outras, completamente outras. E tão irrelevantes que já se perderam no tecido da memória, apenas dez anos depois.

Foi aí que entendi que, olhando em retrospecto (expressão bonita que aprendi na biografia do McCartney), vemos o quanto nos ocupamos de tentar impedir o fluxo natural das coisas. Como na música da Legião Urbana, "tudo passa, tudo passará".

E daqui a uma década, certamente não lembrarei o que me afligia hoje - porque nada disso é importante.

Resumo da ópera: problema nenhum nos define, a não ser - é claro - que assim desejemos.

Anjos guardiões,
Seres da luz infinita,
Que o dia seja de paz,
Que a noite seja bendita!

Eu entrego os meus temores na luz divina
Eu sou um ser de luz divina
Eu irradio a luz divina para minha vida
Eu irradio a luz divina para todas as coisas
Eu envio a luz divina a todas as pessoas
Eu vivo na luz divina
Eu agradeço por todas as coisas, pessoas e por mim mesma.

22 de setembro de 2008

Zen.


Corpo e mente, mente e corpo. São engraçadas as formas pelas quais descobrimos que as duas coisas são, na verdade, uma só.

Hoje tenho a sensação de que estou acordando de um pesadelo beeeeem longo. A chegada da primavera marcou a volta de minha vida aos eixos - as flores se abriram, o sol apareceu e aparentemente os problemas que me afligiam estão mais distantes a cada dia que passa. Começo novamente a me sentir parte de um todo, rodando a favor do planeta e não contra ele. E para completar o ciclo, resolvi aposentar a sibutramina treze dias antes do previsto e me livrar de uma vez daqueles efeitos colaterais enlouquecedores - as irmãs taquicardia, tremedeira e paranóia.

Depois de tanto tempo, finalmente me julgo capaz de abraçar uma árvore e escutar a vida pulsando dentro dela.

Delícia...

Será que dura?

Ontem mais uma vez tive uma epifania. Me dei conta da minha obsessão em controlar o curso de todas as coisas deste mundo. Me dei conta de que este instinto permanente de controlar deixa escancarada uma porta para a paranóia entrar. Me dei conta que mesmo quando não há nenhum compromisso, continuo me forçando a alcançar metas inalcançáveis.

Por fim, me dei conta de que feliz é a água, que não tenta atravessar uma pedra; simplesmente a contorna.

Aleluia.

Digo e mais uma vez repito: será que dura?

Daqui a alguns anos, ao reler este texto, saberei. Por hoje, me contento em não me preocupar com isso e apenas sentir.

17 de setembro de 2008

Ah, ouvidos...

E recentemente eu constatei: para as pessoas, o ato de ouvir não tem nem de perto a importância de ser ouvido.

Ainda no embalo, também me dei conta de ter me tornado algo como o AB+ do mundo social - quando alguém quer colocar seus sentimentos para fora, imediatamente sou reconhecida como receptora universal. Mas num bom sentido, até porque eu incentivo e aprendo (ou tento) com as experiências alheias.

Enfim... uma música para os ouvidos do meu coração. Tenho que confessar, eu gosto muito da Beyoncé - exceto, claro, quando ela entra naqueles surtos hip-hop-suvaco-power.



Listen (Beyoncé Knowles/Dreamgirls OST)

Listen,
To the song here in my heart
A melody I've start
But can't complete

Listen, to the sound from deep within
It's only beginning
To find release

Oh,
the time has come
for my dreams to be heard
They will not be pushed aside and turned
Into your own
all cause you won't
Listen....

[Chorus]
Listen,
I am alone at a crossroads
I'm not at home, in my own home
And I tried and tried
To say whats on my mind
You should have known
Oh,
Now I'm done believing you
You don't know what I'm feeling
I'm more than what, you made of me
I followed the voice
you gave to me
But now I gotta find, my own..

You should have listened
There is someone here inside
Someone I'd thought had died
So long ago

Oh I'm screaming out, for my dreams to be heard
They will not be pushed aside or worse
Into your own
All cause you won't
Listen...

[Chorus]

I don't know where I belong
But I'll be moving on
If you don't....
If you won't....

LISTEN!!!...
To the song here in my heart
A melody I've start
But I will complete

Oh,
Now I'm done believing you
You don't know what I'm feeling
I'm more than what, you made of me
I followed the voice, you think you gave to me
But now I gotta find, my own..
my own...

16 de setembro de 2008

Vida...


Rezo aos anjos lá do céu
Com sua luz infinita:
Que hoje o dia seja bom
Que a noite seja bendita

Desta experiência não levamos nada - mas o que deixamos importa: boas (ou más) lembranças, aprendizado e vínculos com outras pessoas. Para mim, não adianta ser rico e ter poder quando não se dá atenção às coisas pequenas e maravilhosas da vida, como um abraço de pai e mãe, ou o azul do céu de setembro. Ninguém quer morrer sem ter comprado carro nem apartamento... indispensável para mim é entender a importância de abraçar uma árvore.

14 de setembro de 2008

Note to self


Tem certas coisas na vida que, ao contrário dos miraculosos fornos Brastemp, não são autolimpantes. Vida espiritual, por exemplo. Para manter a saúde mental em dia, é necessário cultivar o solo e arrancar constantemente as ervas daninhas.

Do fundo do pleito


Onde os fracos não têm vez, Jack Caolho, Meeeu Amiiiigo Furustreeeeco, Zé Discosta. São tantas opções que, com as eleições se aproximando e o cinismo aumentando, começo a achar que vou ter de encontrar um jeito de votar nulo. Alguém sabe como se faz isso?

Cada um com uma proposta mais factível: um vai pagar (do próprio bolso, suponho) pro povão ir de Caixaprego para a Casa de Noca pagando uma passagem só. Outro vai cobrir a cidade com o recurso indispensável (!) da internet sem fio. O afilhado do Zen-Prefeito diz que vai encher a região metro(sexual)politana de filhotes da bem-sucedida Conde da Boa Bisca. Resta Furustreco, que nem prometeu nada de absurdo até agora, mas perdeu meu voto só por ter me dado um baita susto durante meu sacrossanto horário de almoço. Ã-hã.

Ah, tinha esquecido de Maluquete Beleza, a mais divertida de todas. Ela diz que sendo eleita, ninguém vai pagar mais para andar de ônibus. Se um dono de viação não abater a mocinha até o início de outubro, com certeza um ataque epilético causado pela vinheta do astro-rei com Síndrome de Tourette daquele outro partido de extrema esquerda vai dar conta da situação.

Na verdade, a vontade era dar de cara com uma daquelas urnas de treinamento e eleger o Grande Othelo... Tenho certeza que lá de cima o rapaz conseguiria resolver a situação precária da Pompéia, ops, Veneza Brasileira. Nada que uma série de raios bem-posicionados não desse jeito.

Como diria aquele famoso CEO: Para refletir


Depois de um sábado-madame, no qual me peguei distribuindo para diversos fornecedores estratégicos - salão de beleza e limpeza de pele - algumas onças-pintadas by Casa da Moeda, me dei conta de um ponto conflituoso em minha já tão perturbada personalidade: eu não sei lidar com dinheiro.

Ao contrário do que se possa pensar, não sou uma gastadora compulsiva. Pelo ao contrário, como se diz no dialeto mobral e particular do meu círculo de amizades. Eu não sei é gastar dinheiro. Pelo menos não sem culpa.

Aparentemente meus instintos mais primitivos acreditam que dinheiro bom é dinheiro guardado - no banco, na carteira ou embaixo do travesseiro. Mesmo que seja uma grana extra, sem compromisso com nada, disponível de fato; segurança no meu planeta significa saber que aqueles belos espécimes da tribo dos reaus estão lá, me aguardando para um caso de urgência. Gastar com supérfluo então é praticamente um sacrilégio - tem o mesmo efeito de unha riscando quadro de giz. É ilegal, imoral E engorda.

Pior de tudo é saber que para me curar desta psicopatia, vou precisar vivenciar o paradoxo de deixar uma fortuna nas mãos de algum profissional da saúde mental; e no final ainda agradecer...


Trilha sonora para o making deste post proporcionada por Dormi na Praça, distinto candidato à vereança municipal cujo carro de som roda (em círculos) pelas paragens de Crossroads nesta ensolarada manhã domingueira.

12 de setembro de 2008

Tchau tchau


De dentro do carro ela deu tchau. Eu desci, dizendo 'Bom final de semana', porque a gente vai se ver segunda... Mas por um momento o tempo parou, e eu me dei conta que ela deu mesmo tchau. Deixa para trás um monte de gente doida de saudade.

Karina está, literalmente, passando dessa para uma melhor - deixa a empresa onde trabalhamos juntas por seis anos para assumir novos e maravilhosos desafios mundo afora. Mas ainda que a cabeça fique feliz pelo crescimento dela, meu coração hoje ficou pesado. Levantar na segunda de manhã vai ter um incentivo a menos.

Mas um dia terei que aprender de uma vez por todas que, como prega o budismo, a vida é feita de impermanência. E sendo esta mudança o melhor pra ela, prefiro lembrar com alegria de todos os momentos maravilhosos:

- Os almoços na Copa, mesmo de marmita;
- As leseiras pelo MSN, mesmo no trabalho;
- Os eventos realizados, mesmo de madrugada;
- Os porres no G8, mesmo com cidra sem álcool...

Então pronto: um viva para uma amizade linda, cristalina que nem a risada de Karina, tão gostosa e contagiante a ponto de produzir lágrimas.

Viva! :)

Kal, amiga querida... Nós te amamos muito! Boa sorte em tudo na sua vida, viu? Não vejo a hora de sermos quase-vizinhas.

Na high society


Quinta-feira, praça de alimentação do shopping. Horário de almoço, tudo lotado. Depois de comprar o habitual calzone e suco de laranja, me dirijo à mesa para deleitar-me com minha refeição junto às companheiras de infortúnio - digo, amigas do trabalho. Perto da terceira mordida, avisto uma cara conhecida no meio da multidão, rosto redondo, cabelos pretos e uma (perpétua) camisa azul. Depois de puxar pela memória alguns (ou muitos) segundos, percebo que estou encarando fixamente um ex-governador do Estado, atualmente candidato a prefeito de nossa esburacada capitá.

Antes do cérebro se dar conta do que está prestes a fazer, a boca (como sempre) toma o controle da situação e exclama, num nível decibélico ligeiramente elevado para se fazer ouvir pelas duas incautas acompanhantes: "Eita, Furustreco!"

A que estava de frente para mim, (in)discretamente (como sempre) olha para trás ao mesmo tempo em que pergunta "QUEM?". A do lado, muito sabiamente (como sempre), limita-se a uma verificação tácita, no máximo um "ã-hã" abafado pelo barulho da turba faminta aboletada nas mesinhas ao redor.

É aí que a coisa piora.

Aproveitando a chance para fazer piada, revivo um incidente diplomático do passado, no qual famosa cerimonialista contratada por nós demonstrou súbita e anormal intimidade com este mesmo cidadão, então vice-governador, apresentando-o em um evento ultra-formal com um sonoro "Meu amigo Furustreco!". E é justamente isso que eu repito, obviamente exagerando nas vogais para gerar um tom mais dramático: "Meeeeeeu amiiiigo Furustreeeeco!".

Como que guiado por um ebó/sexto-sentido mais apurado que aquele pirralha do 'I see dead people', o rapaz levanta a cabeça exatamente nesta hora, me avista através da multidão e esboça um sorriso.

Tum-tum, tum-tum.

O sangue em minha cabeça começa a pegar fogo, permitindo-me aproveitar o maravilhoso fenômeno da surdez momentânea - quebrado apenas pelas batidas frenéticas de meu coração.

Tum-tum, tum-tum.

Como se fosse em câmera lenta (ou em efeito bullet time, para quem é pós geração Matrix), eu vejo a mão do indivíduo levantar e balançar de um lado para outro, enquanto me olha fixamente de uns 15 metros de distância.

Tum-tum, tum-tum.

Sim, ELE DEU TCHAUZINHO PARA MIM.

Sem ter onde enfiar a cara senão um saquinho de papel com meio calzone de filé com cheddar, levanto minha própria mão e retribuo o gesto.

Desnecessário dizer que as duas acompanhantes, em meio às gargalhadas, foram tangidas por mim para fora da praça de alimentação nos segundos seguintes - mas não sem elogiar o candidato pela ótima atuação no quesito 'Leitura Labial'.

11 de setembro de 2008

Gerovital - a força da sua saúde


Eu conheço um cidadão que, do alto de seus trinta e poucos anos, tem um bordão altamente peculiar: "quando eu era jovem e tinha saúde, as coisas eram diferentes..."

E eu, que ainda nem cheguei perto da trigésima primavera, estou sendo obrigada a parafraseá-lo com mais freqüência do que gostaria. Em 90% do tempo ALGUMA COISA me dói - é a coluna, o ombro, o braço, o cotovelo. As pernas, a cabeça, o estômago e por aí vai. Na maioria das vezes as dores vêm em combo, numa versão geriátrica do McMenu: número 1, coluna e perna; número 2, ombro, braço e mão.

Mas o que vem pegando ultimamente é a ausência total e absoluta de memória. Nos cinco minutos desde que comecei a escrever isto, por exemplo, já tive que reler quatro vezes o texto para lembrar... putz, lembrar o que mesmo?

Ainda bem que Deus inventou as drogas; mais precisamente os complexos vitamínicos. E viva o Gerovital!

9 de setembro de 2008

Há quanto tempo...

...eu não tenho aquela sensação genuína de pertencer a este lugar e a esta época? É tanta preocupação, tão recorrente, e com tantas coisas que não posso controlar, que a sensação é a de estar constantemente tentando girar no sentido anti-horário do mundo.

Mas aceitar é o primeiro passo, certo?

8 de setembro de 2008

Espanando a poeira

Quase um ano depois, uma coincidência me relembrou da existência da blogosfera. Explico-me: chegando em casa numa preguiçosa tarde de domingo, me deparo com a exibição - num canal que normalmente nunca assisto - da versão cinematográfica de um dos meus livros preferidos: Cyrano de Bérgerac.

Com a suspeita cada dia mais forte de que sou uma versão de saias (a bem da verdade, calça jeans) do narigudo gascão, tentei e tentei e tentei puxar da memória um trecho da saga de Cyrano que rabisquei em todos os livros e cadernos do segundo grau... Até que me dei conta de tê-lo publicado, há alguns anos, no meu recém abandonado blog:

"Repara em mim, Le Bret! Repara a que distância
Me deixa da ventura esta protuberância!
Oh! Não tenho ilusões! Contudo, reconheço
Que, numa tarde azul, às vezes me enterneço;
Entro n'algum jardim que o tempo aromatiza;
O meu nariz fareja abril que se matiza.
Sob um raio argentino o meu tristonho olhar
Segue um casal feliz. E ponho-me a pensar
Que essa faixa de lua etérea me convida
A levar pelo braço uma mulher querida.
Eu me exalto... eu me esqueço... e, quando menos penso,
Vejo, em sombra, no muro, o meu nariz imenso!..."

Edmond Rostand. Cyrano de Bérgerac, ato I, cena II.

Foi quando me deparei com textos antigos, e me lembrei do quanto é terapêutica a atividade do escrevinhar - não aquela pela qual sou remunerada, mas a que coloca no papel confissões íntimas e epifanias fugazes...

Cá estou, determinada a continuar a jornada e - é mister declarar - deveras agradecida ao Eurochannel (ou Eurokennel, como costuma dizer uma pseudo-modelo-manequim-atriz-BBB cujo nome já deve ter se perdido na memória coletiva - pelo menos na minha já era, garanto).

Que seja de bom proveito.