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Todo dia, mesma hora. Ele se arruma - veste calça de tecido e camisa social, perfuma-se com uma alfazema (como já não vê nem se sente) e penteia os cabelos com brilhantina. No bolso da camisa um pequeno rádio de pilha, contraste lindo e gritante com os modernos tocadores MP3 que hoje passam facilmente por uma caixa de fósforos (outro item altamente injustiçado no século dos acendedores e isqueiros).
Ele abre a porta do apartamento e, invariavelmente às quinze para as sete, cruza comigo nas antigas escadarias do prédio de apartamentos. Abaixa o olhar e murmura um boa-noite; o som ecoa pelas paredes cobertas de azulejos verdes. Enquanto luto contra o molho de chaves e as grades de casa, escuto-o caminhar a passos lentos até a frente do edifício. Finalmente ele toma seu lugar de hábito num combalido banco de granito, posicionado estrategicamente na penumbra.
E liga o rádio.
Ela escuta o som daquela valsa antiga - é hora. Despede-se do pai com um beijo e desce as escadas de seu próprio apartamento, encontrando-se com seu par sob uma luz suave e azulada. Naquele lugar, todos os dias são de lua cheia. Ela suspira, recosta a cabeça no ombro dele e fecha os olhos. Ele simplesmente sorri.
Até que horas os dois ficam ali, diariamente, imóveis e ouvindo valsas antigas, eu não tenho noção. O fato é que ambos têm mais de 60 anos - e todos os dias fazem tudo sempre igual.
2 comentários:
ê, pá, tava com saudade dessa prosa tão familiar...
que história linda.
Meu Deus, que história de amor tãooo linda :-)
Quero uma dessas para a minha velhice. Onde compra????
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